Marrocos e a polêmica pergunta: segurança
- Bruna Ventre

- 30 de jan. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de dez.
Sempre fui muito noveleira, assistia todas as novelas e não só da Globo, Record e SBT também. Aprendi com minha avó. Teve uma época que minha mãe ficou no meu pé pra eu sair de frente da TV e foi aí que me apaixonei pelo Marrocos em "O Clone".
Anos mais tarde, 2012, eu fui estudar nos Estados Unidos e lá fiz amizade com um estudante marroquino. Como sou muito curiosa eu queria saber tudo sobre o seu país e ficava contando coisas que aprendi na novela e confirmando se era tudo daquele jeito que mostravam mesmo e ele, achava o máximo meu interesse pela sua cultura. Foi aí que coloquei na cabeça que um dia tinha que visitar o país, porém até então sem nenhuma previsão de quando. Tive que esperar só 10 anos pra isso acontecer!
Em dezembro de 2022 conheci algumas pessoas pela Espanha que já tinham viajado para o Marrocos por serem países bem próximos, então é um turismo muito popular e assim, fui vendo que esse poderia ser meu próximo caminho uma vez que a essa altura não tinha nada planejado para 2023.
Contudo, tinha um tema que ficava toda hora na minha cabeça, a segurança. Segurança de circular no país sendo mulher e mais que isso, sendo mulher acompanhada da minha namorada em uma cultura que considera relações homoafetivas crime com direito a prisão e tudo.
Pois bem. Comecei a pesquisar o que fazer, onde visitar e minha mente ficava constantemente questionando se valia a pena ir pela curiosidade de conhecer uma cultura totalmente diferente de tudo que já vi até agora ou se não ir seria um ato em defesa e proteção a quem sou e o que acredito, meus valores.
Pensei nisso muitas vezes caladinha, só comigo mesma. Mesmo assim, seguia lendo constantemente, em diferentes sites e sobre todo tipo de experiência que várias pessoas tiveram por lá. Essas leituras iam aos poucos me acalmando e passando segurança para a viagem.
Até que colocando os prós e contras na balança, eu comecei a pensar no meu propósito nesse mundo, entendendo quem sou e colocando de lado tudo que já tinha aprendido ao longo das minhas pesquisas.
A conclusão que a Bruna chegou foram de duas opções: eu poderia não ir como um ato de discordância ao que o país criminaliza, com o tom do tipo "se não me querem lá, eu que não os quero" e seguir pra outro canto do mundo. Ou eu poderia ir e tirar minhas próprias conclusões.
Pensando rapidamente sobre que direção tomar, foi fácil entender que eu tenho minhas dificuldades, medos, traumas, inseguranças, mas não sou de fugir deles, eu encaro e busco a mudança.
E ir, também é um ato de resistência de poder mandar a mensagem "eu estou aqui ocupando um espaço que também é meu". Não pra encarar ou desafiar com um tom de rebeldia, só pra compartilhar um espaço na terra que é terreno de todo ser humano.
Foi assim que coloquei na cabeça a oportunidade de conhecer o país e para minha felicidade, foi lindo explorar tudo por lá. As pessoas são muito amáveis e acolhedoras, o país é lindo e diverso, você tem deserto, tem montanha, tem praia. Tudo muito interessante mesmo. O turismo é bem estruturado. As vestimentas, a gastronomia, a arquitetura, tudo bem diferente e encantador.
Quanto a cultura em si, é um tema complexo e ao mesmo tempo tão distante do meu modo de viver e do que conheço, que não acho justo ninguém julgar a forma de viver do outro. Por isso, eu respeito, sou grata pela vivência e o que posso sim dizer é que eu e Nath nos sentimos bem seguras, porém seguras porque fingimos ser amigas. Não nos sentimos à vontade de falar que éramos um casal para estranhos, pois não sabíamos o que isso poderia gerar a uma turista. Uma vez uma marroquina que conheci na Espanha me disse que quando se é turista, eles eram muito tranquilos, não teria problema algum. Mesmo assim, não quisemos arriscar.
Ficamos 13 dias viajando pelo Marrocos e conhecemos todas as cidades que queríamos sem correr, fazendo tudo no nosso tempo, mas com certeza ter que fingir ser amiga da pessoa que você compartilha a vida para estar segura não nos deixava à vontade, não é pra isso que o amor existe, o amor é só coisa boa, tem que ser só coisa boa.
Quanto à segurança de mulheres em si, diferente dos relatos que li na internet sobre assédio com mulheres, nós não sentimos isso e por isso é tão importante não tomarmos uma ideia como certa na nossa cabeça pelo olhar de outra pessoa. Se você quer dar sua opinião, vai lá e vivencia primeira, porque com certeza a sua vivência vai ser diferente da outra pessoa e isso pode mudar a visa geral de um destino.
O que eu percebo que acontece é uma curiosidade natural pela diferença de culturas. Eles vão olhar para nós porque somos diferentes na questão de vestimenta por exemplo, assim como eles são pra nós, então é tudo curioso para os dois lados. Lá não é permitido expor nenhuma parte do corpo, ou seja, você deve andar sempre com braços e pernas totalmente cobertos, então se aparece um turista como nós de shorts ou camiseta, regata, eles vão olhar porque foge do comum. Como para nós, é incomum cobrir sempre o corpo todo, principalmente em um dia de sol, então nós vamos olhar porque chama atenção para o que não é óbvio aos nossos olhos. E neste ponto você já aproveita para pegar essa dica: por vá no inverno pois fica mais fácil se vestir de forma respeitosa com a cultura local.
Então não nego que foi tudo lindo sim. Do olhar de uma turista viajando com sua amiga, saiu tudo além do esperado. Já do olhar de uma mulher que viaja com sua namorada, não sei dizer, essa experiência eu não tive e realmente espero que alguém que o faça, venha compartilhar comigo. Não conheci ninguém pelo caminho que viajava em relacionamento homoafetivo. Ou talvez conheci, mas também estavam com medo de admitir.
Fato é que o país é lindo, que as pessoas são muito amáveis, que elas vão tentar ao máximo se comunicar no seu idioma nativo (eles falam muitos idiomas, isso é incrível), que no fim, a gente sempre vai falar de pessoas - que é o que mais encanta e nos marca em toda experiência que vivemos. Então se conecte a isso e vá viver sua própria experiência pelo Marrocos.
Boa viagem!




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