O sonho de viajar pelo mundo

No meu quinto ano de estrada

"Mamãe eu vou viajar o mundo". Essa frase nunca ressoou tão certa em minha mente até após eu fazer o mochilão, quando minha mãe me contou sobre essas coisas que eu dizia a ela quando ainda era apenas uma criança. Entre a minha decisão de sair para mochilar e até de fato colocar a mochila nas costas, se passaram 6 meses e neste tempo muita coisa aconteceu. A primeira coisa após relembrar este sonho antigo de viajar pelo mundo, foi entender se eu iria seguir com esse plano e se teria coragem para executá-lo e vou confessar aqui que isso levou um tempo considerável. Eu tinha muito medo do novo, da vida incerta, de viver uma vida que eu não tinha nenhuma referência de pessoas ao meu redor para me contar como ela seria. Contudo, eu tinha muita vontade, medo demais, mas ainda mais vontade. Me dei conta que esse sonho seguiu martelando na minha cabeça e que não dava mais para ignorar o que estava sentindo.

Foi então que meu primeiro instinto foi entender um pouco de como seria a cara dessa vida de mochileira e li incontáveis blogs, assisti vários vídeos, conversei com muitos amigos pedindo opinião até que uma coisa que ouvi de um antigo chefe foi decisiva: não adianta buscar fora, eu posso te falar mil coisas, mas a resposta está dentro de você. Eu nunca vou esquecer dessa frase que o Eric me falou pelo telefone. A decisão a partir dali já estava tomada e eu ia viajar. Mas como?

A princípio pensava em passar uma temporada morando em um país europeu que eu pudesse trabalhar fazendo dinheiro para seguir viagem para outros destinos. Também, considerei virar nômade digital e utilizar meus conhecimentos trabalhando com redes sociais para criar um canal do youtube e quem sabe, ganhar dinheiro com isso para me manter no percurso. Eu tinha pavor de me faltar dinheiro. Comecei a trabalhar aos 14 anos e me imaginar sem trabalhar e sem recursos era algo insustentável para mim. Então, minha decisão foi levantar o máximo de dinheiro que eu pudesse até a viagem, vender tudo o que eu tinha dentro de casa, devolver o apartamento alugado em que eu morava e seguir viagem.

Era 29 de setembro de 2020 quando fui rumo ao aeroporto sem saber que dali em diante minha vida não sairia nadinha como o planejado e que eu ficaria super feliz por tudo que iria acontecer. O universo não erra, a gente é que tem que dar espaço para deixar que ele nos surpreenda. Foi assim que eu saí com uma mala pequena de rodinhas - eu ainda não tinha um mochilão - e fui conhecer um pouco mais do país que eu imaginava que ficaria um tempo sem visitar.

Meu destino era Teresina, no norte do Brasil, a primeira parada entre as várias que eu faria ao longo de quase 1 mês de viagem pelo país, depois de exatos 6 meses em casa pela pandemia.   Saí de São Paulo direto para essa cidade em que eu seria acolhida por uma amiga que fiz amizade enquanto viajava um ano antes para Fernando de Noronha de férias. A Suzane foi daquelas pessoas perfeitas que te recebem em sua cidade natal e te levam para conhecer cada cantinho precioso que tem ali. Fomos em todos os pontos turísticos, comemos e bebemos coisas típicas da região, ficamos o dia inteiro rodando pra cima e pra baixo que até parece que eu fiquei muito mais do que um único dia pelo tanto que conheci.

É muito bom você encontrar pessoas que, assim como ela, conhecem bem a história da cidade e podem te contar tudo dali enquanto colocam o papo em dia e nessas trocas, nós falávamos do dia em que nos conhecemos em um bar de uma ilha e por sermos 2 viajantes solo, cada uma no seu canto comendo algo e tomando um drink ao som do forró ao vivo, nos olhamos e nos juntamos na mesma mesa tornando essa amizade possível. Que encontro inesperado.

Depois de aproveitar um dia intenso pela terra dessa amiga, na mesma noite eu segui viagem de Teresina para a região litorânea do estado onde conheci o Delta de Parnaíba, 1 dos 3 únicos deltas existentes no mundo e que está pertinho de nós, ali no Piauí. Além de conhecer este ponto importantíssimo do Brasil, também percorri por todos os 66km de litoral da região.

A proposta da viagem era me despedir do meu país que tanto amo porque iria ficar um tempo fora, eu tinha muita curiosidade de conhecer outras culturas e queria saber como era viver em outro país além dos Estados Unidos que já tinha morado a alguns anos atrás. Foi por essa razão que visitei os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe e Rio de Janeiro entre esta data de setembro até chegar dezembro, no natal, para passar com minha família a data e então logo em seguida, seguir com a mudança.

Mas é aquilo que já falamos, o universo tem planos pra gente bem melhores que os nossos, então a viagem pra fora foi cancelada porque as fronteiras fecharam devido à pandemia e a minha vontade de conhecer novas culturas se deu aqui mesmo, no meu próprio país, e foi a melhor coisa que me aconteceu - foi riqueza pura.

A Bruna de 5 anos estava certa, ela iria viajar o mundo como disse à mãe dela e iria descobrir vários novos mundos dentro de si.

Texto escrito em 04/07/2023 em Salvador