O espírito de comunidade que a estrada te ensina
- Bruna Ventre

- 3 de dez.
- 2 min de leitura
Lembro que no começo eu usava uma mala de rodinhas bem pequena, porém de rodinhas, e logo aprendi que a forma mais sustentável de viver dentro de uma mala é ter uma mochila própria pra isso. Lembro também que eu nunca tinha montado uma barraca de camping sozinha e não só aprendi a montá-la, como vivi em uma por 6 meses e sinto saudades desse tempo que amava morar ali. Além dessas coisas que me vem na memória agora, também vieram inúmeros aprendizados, principalmente com relação a viver em comunidade, aprendi muito sobre compartilhar e pensar no coletivo.
No começo me parecia estranho pegar roupa, sapato, shampoo, comida, entre tantas outras coisas que as pessoas deixam nos hostels, confesso que achava pouco higiênico para uma virginiana. Mas o tempo passa e te ensina demais. Tempos depois lá estava eu como uma mochileira de verdade, amando fazer trocas em hostels porque a blusa de inverno que você usa naquele local não serve para o verão de onde você está indo e aquele peso na mochila não vai ser legal. Então porque não ajudar o próximo que está chegando de algum lugar mais quente e não tem a roupa apropriada? Essa é mais ou menos a lógica da família que inconscientemente se forma quando você está na estrada, deixando muita coisa por onde passa e também levando outras que no momento faz mais sentido, seja uma comida deixada na sessão de "free food" da cozinha ou uma blusa no armário de achados e perdidos. O verdadeiro sentido de viver em comunidade é isso.
Essa tal comunidade também se estende para os quartos. Mochileiros costumam se hospedar em hostels/albergues por serem mais baratos e isso envolve compartilhar quarto com várias beliches que vão desde 4 camas a 8,10,12 camas ou mais. Essa é uma ótima forma de fazer amigos e se conectar com as pessoas, o que também não deixa de ser uma forma de aprender sobre dividir espaços, respeitar o seu quadrado literalmente, o quadrado do outro e, também envolve muita paciência pois cada pessoa ali vem de uma cultura, um país, um costume em casa diferente, então coisas que não te agradam vão acontecer e faz parte.
Para mim era tranquilo dividir quarto no começo, eu adorava usar este espaço para fazer amizades e quando me sentia muito cansada de compartilhar quarto e precisava um pouco de privacidade, me dava uns dias de Airbnb, hotel ou quarto privado pra recuperar as energias.
Contudo, depois de mais de dois anos compartilhando casa, quarto, banheiro, cozinha, geladeira, tempo, energia, chega uma hora que este ciclo também se fecha e seu corpo pede por uma rotina nova, com mais privacidade.
É assim que me encontro hoje, buscando espaços mais reservados.
Texto escrito em algum momento de 2022.




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