Últimos desejos da temporada Europa
- Bruna Ventre

- 9 de fev. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de dez.
2023 começou revirando tudo! Exatamente no dia 9 de janeiro eu entendi que precisava encerrar a temporada de mochilão pela Europa pois aquele ciclo já não estava mais fazendo sentido para mim. Ainda vivendo este luto, chorando e entendendo meus processos, fiquei pensativa um tempo tentando entender como eu queria que essa fase tão enriquecedora se encerrasse e resolvi compartilhar com Nath como me sentia.
Por sorte estávamos na mesma página. Ela já sentia de parar a mais tempo que eu, então, depois de ter passado aquele momento de aceitação e nostalgia, chegamos na ideia de fazer uma lista de lugares que queríamos conhecer na região antes de voltar para o Brasil.
A minha intenção era estar consciente de que iria voltar sem aquele peso de "e se...", e se eu tivesse ido pra tal lugar que queria muito, como teria sido? E se eu tivesse insistido mais? Ou aguentado mais? Eu não queria chegar no Brasil com esse sentimento, por isso me mantive atenta aos sinais para entender exatamente o que precisava fazer antes de partir.
Conforme o tempo ia passando, me sentia cada vez mais em paz com a decisão. Eu estava pronta e a jornada mais leve, já que a partir dali era tudo despedida, fazendo só o que eu queria, indo onde eu queria - foi gostoso.
Lembro bem que estávamos sentadas na cama, na beliche de um hostel no Marrocos e anotávamos nossas vontades e pesquisávamos aonde ir. Pegamos nada mais que um grupo de viagens que temos nós duas no whatsapp e o google maps na mão, para selecionar os principais locais de cada uma.
Dentre alguns países listados, tínhamos Portugal que eu queria conhecer a cidade de Porto e Nath queria ver as ondas gigantes de Nazaré e eu amei a ideia. Além desse país em comum, eu queria muito ir pra Bruxelas na Bélgica pelo simples fato de querer experimentar o melhor chocolate, fritas, waffle e cervejas do mundo. Me julguem sim porque escolho destinos baseados em sua gastronomia. Nath entretanto, queria conhecer a Holanda e por mais que eu já tenha visitado Amsterdam, não me importaria em repetir.
Além destes países, a lista também continha outros como Suíça, Israel, Turquia, Egito, Noruega e outros mais, que ficaram pra uma próxima.
O primeiro local que fechamos foi Portugal para ir depois do Marrocos e, na sequência dele, emendaríamos Holanda. Bruxelas apareceu no calendário assim que chegamos em terras holandesas num bate e volta de um dos dias de folga do trabalho voluntário que fizemos em uma cidade chamada Eindhoven, há 2 horas de distância. De lá, partimos para Amsterdam, Harlem e Roma em nossa última semana pela Europa .
Ainda em Portugal, teve o dia que compramos a passagem para o Brasil e foi algo curioso. Eu amo perceber que quando estamos no caminho certo as coisas fluem com uma simplicidade assustadora.
Estávamos em Lisboa na casa de uma amiga de um amigo que nos cedeu o sofá para dormirmos e desde que decidimos parar o mochilão, acompanhávamos os preços das passagens para o Brasil. Contudo, ainda não sabíamos quanto tempo mais viajaríamos, não nos colocamos uma data limite, um prazo, ia depender das passagens. Nossa ideia era seguir visitando os locais da lista de desejos enquanto tivéssemos fôlego e dinheiro, principalmente.
Pois bem. Neste dia surgiu uma promoção de voo para o Brasil para dali 20 dias e tinha poucos assentos, ia esgotar em breve. Eu me lembro que estávamos deitadas no sofá pesquisando e achamos uma boa essa passagem porque o período de 90 dias que a Nath podia ficar na Europa ia acabar próximo dessa data. Pra mim, como viajo com passaporte italiano, isso não seria problema. Mesmo assim, eu não estava segura de comprá-la porque a viagem já era logo ali e eu ainda tinha frio na barriga em imaginar o fim. Ainda vivendo esse luto, perguntei pra Nath: e aí, compramos? E ela, com aquela tranquilidade que sempre me acalma falou: compra. Numa paz de quem já está super resolvida com o assunto.
Minha reação não foi tão de paz assim, falei: calma, preciso de um minuto. Lembro de olhar para o teto da casa e largar o celular pensando em o que fazer, confesso que apertar aquele botão de compra me assustava pois seria a concretização do fim de um ciclo extremamente significativo na minha vida. Era como se a data estando tão próxima me assustasse de realmente ser bem mais perto do que imaginava do fim.
Pensando rapidamente, eu sabia no fundo que essa era a minha vontade, só estava relutando para aceitar, mesmo ciente que aquilo iria me fazer mais feliz do que continuar viajando pela Europa. Respirei um pouco e olhei pra ela de novo: tá, vamos comprar.
Com as passagens na mão a nossa data estava definida e instantaneamente me bateu um certo alívio em saber que agora com certeza eu iria ver minha irmã grávida, algo que vivia me questionando. Também veio a empolgação de imaginar um cantinho meu pra planejar os próximos passos da vida. A felicidade de rever minha avó que já está com seus 92 anos. Além de poder acompanhar minha mãe no tratamento médico. Todos esses novos planos e ciclos me animaram porque é importante para mim estar presente nessas ocasiões.
Eu rodei em muitos lugares nesse período de mochilão e estar longe da família era algo que lidava bem, pois sabia que estava ali cumprindo meu propósito e também, sempre me fiz presente, mesmo que à distância. Agora, a vontade de se fazer presente de pertinho ficou maior e de estar na estrada menor, como se a balança fosse invertendo seus lugares.
Se um dia eu vou voltar a viver assim? Não sei, tenho sonhos! Mas deixemos para que cada tempo sabático tome sua própria forma. No futuro quero explorar a América Latina, a Ásia, a África, mas sem ideia de quanto tempo vai durar, como vai ser, por onde vou começar. Só deixando fluir como de costume.




gosto de ler as histórias que estou presente, me faz relembrar a sensação do momento.
te amo