Boas novas

Primeiro dia do ano e eu me encontro aqui, sentada na piscina do prédio de onde moramos em Salvador escrevendo esse texto no celular, enquanto a Nath lê um livro ao meu lado. 

Tenho refletido nos últimos tempos sobre como construir uma vida digital para ganhar liberdade geográfica de viver e trabalhar em diferentes espaços físicos. Não estou reclamando do meu trabalho de forma alguma, sei do conforto que hoje vivo, o quanto busquei conquistar tudo o que estou vivenciando neste exato momento e sou extremamente grata por isso. Mas é que voltar ao mundo de CLT me fez ter a certeza que não me encaixo mais neste sistema. Sistema esse que nos coloca para trabalhar o dia todo ao longo da semana e nos dá em retorno 1/2 dias para descanso. Sistema que nos faz esperar ansiosos pela aposentadoria, pelos 30 dias de férias no ano, pelos feriados e pontes - tudo para termos mais dias livres para viver como a gente bem entende. Sem cumprir papéis.

Eu já amei muito essa forma de trabalho e acredite, num passado não tão distante costumava dizer que seria para sempre assalariada, usufruindo de todos os benefícios que com ele vêm associados a uma suposta segurança. Achava tudo mais fácil.

Só que agora eu sei que não me encaixo mais. Foi bom enquanto durou meu romance com essa forma de troca de trabalho até o início da pandemia, mas só quem já viveu na estrada sabe o prazer imenso que é termos um mundo inteiro para pisar os pés sem limitações de horário, dias, nada disso. Essa virou minha sina desde que saí de mochilão a 3 anos atrás e aprendi várias outras formas de se trabalhar. Foram três anos intensos que me ensinaram tanto, que quando decidi experimentar novamente o universo tradicional de trabalho, vulgo CLT, eu sabia que seria uma adaptação desafiadora de início, tendo que ficar ali no escritório pelo menos 8 horas do meu dia, com roupa apropriada para usar, horário determinado para estar, formalidades para se prestar. E eu fui lá e enfrentei.

Passei pelos primeiros 3 meses dando o máximo de mim para acompanhar o ritmo que o local espera de um profissional recém chegado e que tem um time de 32 pessoas para liderar. Juro, eu mesma me orgulho de minhas entregas dado o cenário de tantas novidades em que estava vivendo: cidade nova, estado novo, casa nova, emprego novo, cultura nova, novas pessoas, tudo uma imensa novidade. Eu estava conseguindo, independente de qualquer correria, estava rolando!

E aí que 2024 chegou e desde o finalzinho do ano anterior eu já estava com essa resolução em minha mente depois de ter provado desse comecinho da “vida tradicional” - preciso gerar renda de outra forma! Neste momento, me sinto grata por estar conectada comigo mesma escutando o que minha voz interior tem a dizer e a verdade é essa, não posso negar o que meu coração sente. Está bacana trabalhar, aprender coisas novas, mas confesso que quanto mais testo esse sistema, mais enjoo dele rapidamente. 

Me lembro bem de quando trabalhei em uma empresa durante o mochilão quando fiquei um tempo em Barcelona e aquela rotina só durou 15 dias - 15 dias foram suficientes para entender que eu não conseguia mais. A razão dizia “vai Bruna, você tem que trabalhar” e a intuição respondia “isso não é pra você”. Pedi as contas, me desculpei e segui a vida.

No meu lugar de privilégio, muitos podem me taxar como “a nova era de pessoas constantemente insatisfeitas” mas eu não vejo isso como uma insatisfação, vejo como um fluir da vida que está em constante movimento e que com ela, me leva a querer novos caminhos com mais rapidez do que os tempos antigos. Pode ser sim que nós hoje em dia tenhamos uma dificuldade de vínculo maior ao olhar dos mais velhos - o que eu intitularia como desprendimento - mas se o fogo da vida pulsa dessa forma atualmente, porque eu irei negar algo que dentro de mim chama por liberdade? Algo me diz no meu eu interior que está tudo esclarecido o que devo fazer, só estão esperando eu encontrar esse caminho.

Estou te escutando corpinho, lá dentro eu sei que você está me guiando e essa hora vai chegar.

Simbora 2024!