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Tempos, pausas e recomeços

Atualizado: 3 de dez.

Na adolescência eu basicamente tinha dois grupos de amigos, os da escola pública que eu estudava e os do clube onde jogava vôlei. Grupos socialmente bem diferentes onde nos dois eu tinha momentos que me sentia deslocada, mas não ligava pra nada disso, com exceção dos dias que percebia no olhar de alguns familiares de colegas do vôlei preconceito quando meus amigos da escola iam assistir a um jogo nosso. Era uma mistura de revolta com impotência e eu nunca soube lidar com a situação dos meus 11 a 14 anos então no fim, sempre acabava calada.


Lembro que desde que comecei a jogar vôlei, meu pai falava pra eu não andar com as pessoas do clube porque elas não faziam parte do meu mundo, que eu não conseguiria acompanhar e ficava muitas vezes bravo quando eu insistia nas amizades. Eu nunca me importei e muito menos me sentia diminuída só por não ter a mesma condição de vida, para mim eram pessoas e é isso. Sabia que não teria muitas coisas das quais elas tinham, que passaria vontade de vez em quando, mas de verdade, isso não me afetava. Eu sempre encarei essa diferença como inspiração, pra eu poder conquistar novos espaços para mim.


Estar com esses amigos, além da amizade claro, era de muito aprendizado, afinal foi com eles que escutei pela primeira vez sobre parques da Disney em Orlando, sobre intercâmbio, foi com eles que fiquei curiosa em aprender idiomas e conhecer novas culturas. Acho que no fundo, isso estava lá dentro do meu ser e eles ajudaram a trazer tudo à tona. Era como se eu me transportasse da minha bolha para um mundo totalmente novo.


Olhando para trás, eu acredito que sempre fui uma pessoa curiosa, lembro da tia da perua reclamar para minha mãe por eu falar tanto "mas porquê?", e estar com essas pessoas que me contavam coisas diferentes, saciava um pouco dessa curiosidade.


Aos 15 anos, quando os jovens geralmente fazem comemoração, lembro de escutá-los contando que iam viajar pra fora do Brasil como presente de aniversário, que fariam o último ano do ensino médio fora do Brasil ou um mochilão pela América do Sul. Eu amava essas histórias de um mundo que ainda era inalcançável e estava certa de que um dia também faria todas essas coisas; só não sabia como iria acontecer, mas eu ia conseguir.


Anos mais tarde, já com 18/19 anos, comecei a trabalhar em uma multinacional que recebia muitos funcionários de outras partes do mundo para trabalharem por uns meses no Brasil e também, muitos do Brasil tinham a oportunidade de ir pra fora. Fiquei encantada! Mas tinha um problema, eu não falava inglês fluente. Já fazia um tempo que estudava, mas para ter essa oportunidade, eu ainda tinha que evoluir bastante.


Foi aí que dei meu primeiro passo no mundo afora. Fiz intercâmbio de 1 mês em Londres para melhorar o inglês. Claro que esse tempo não é suficiente pra ficar fluente, mas ajudou bastante a perder a vergonha e medo em me comunicar. Porque Londres? Razões óbvias de alguém sem grana, tinha familiares lá que me dariam casa de graça e com salário de estagiária foi o que deu pra fazer e eu AMEI, estava feliz da vida!


Foi lá que tive a certeza do que queria fazer depois da faculdade, conhecer novos países. Voltei pro Brasil e pesquisando muito, descobri uma forma de conseguir bolsa de estudos nos Estados Unidos jogando vôlei. Lá fui eu por 2 anos me aventurar e finalmente aprender o idioma. Essa experiência foi bem marcante e de muito aprendizado na minha vida. Realmente acredito que todos deveriam ter a oportunidade de viver fora um tempo, pois você cresce muito como pessoa em formas que só vivendo isso te proporciona.


Quando voltei para o Brasil depois desses 2 anos, eu já tinha na minha cabeça qual seria meu próximo objetivo de viagem: conseguir trabalho em uma empresa que me fizesse viajar. Já que eu não tinha recursos financeiros pra viajar por conta, isso me parecia mais acessível.


Três anos depois a oportunidade apareceu! Trabalhei em uma companhia aérea e estava muito feliz por ter super descontos em passagem, o que me possibilitou conhecer vários cantos do Brasil e do mundo.


Mas algo ainda me dizia que não era suficiente. Que as viagens a trabalho que eu fazia eram poucas e já que eu não podia mochilar pois tinha que trabalhar, eu realmente precisava de um emprego que me levasse para muitos mais cantos.


E quando a gente pensa em uma coisa por anos, ela acaba acontecendo. A tal lei da atração.


Saí da companhia aérea e fui trabalhar em uma empresa que eu amava, amava tudo sobre ela. Amava os valores do lugar, as pessoas, o trabalho em si e amava que eu viajava quase semanalmente pelo Brasil com ela. Nessa época me sentia extremamente realizada!


Até que a pandemia chegou. Uma semana eu estava trabalhando no carnaval de Salvador e na seguinte tudo parou.


Foram tempos difíceis. Além de todo caos óbvio que conhecemos, eu estava trabalhando de casa. Era o computador e eu numa situação bem privilegiada para o momento em questão e, mesmo assim, eu estava infeliz. Antes eu não tinha rotina, toda semana estava em lugares diferentes, era isso que me deixava contente e, logo depois, nada disso existia mais.


Passados uns meses eu comecei a entender que podia transformar aquilo que estava me fazendo mal, na realização de mais um sonho: finalmente tirar o mochilão do papel.


Nessa época eu já tinha um dinheiro guardado que dava para me manter um tempo, mas desde os 14 anos não sabia o que era não trabalhar então tive muito medo de largar tudo, mesmo sabendo que esse "tudo" era só uma parte da minha vida e não o todo. Ou seja, eu ainda tinha muito o que aprender sobre mim mesma além do trabalho.


Falei com muita gente, conversei com todas as pessoas que pude, li demais a respeito, fiz orações, até que me dei conta que a resposta não vinha do externo, mas ela estava bem aqui dentro.


Tomei coragem e larguei o trabalho, entreguei o apê alugado, vendi tudo que estava dentro dele e saí para realizar aquele sonho de menina de quando escutava os colegas falando das suas viagens. Só que agora eu seria a contadora das tais histórias.


Levou 15 anos, em 29 de setembro de 2020, comecei o mochilão!


No começo eu pensava que duraria de 6 meses a 1 ano, que seria o tal "ano sabático". Aí quando deu o prazo eu ainda não queria parar, então larguei mão do tempo e deixei fluir. Esse fluir já está na conta de mais de 2 anos e muitas histórias para serem contadas. Mas quem está controlando o relógio? Decidi deixar o tempo da natureza me dizer quando é hora de parar.


5 comentários

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juliana.costabile
juliana.costabile
03 de fev. de 2023

Parabéns pela coragem de contar a sua história Bru. Ja pensaste em trabalhar embarcada, em navio de cruzeiro? Trabalha bastante mas cada dia você estará em um país diferente.. uma experiência única! Vim só dar esse palpite 😅


Um abraço

Juliana Costabile

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juliana.costabile
juliana.costabile
09 de fev. de 2023
Respondendo a

Me chama no insta se quiser falar mais sobre isso e tiver dúvida.. @Ju.z.costabile


Beijão

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edsania
03 de fev. de 2023

Te descobri no YouTube

acredito que tenha sido seus primeiros vídeos dessa aventura. Fiquei tão entusiasmada que queria mais porém não tinha mais vídeos entao te procurei no instagram e vi como tudo havia se transformado em sua vida. quanta mudança em pouco tempo! Fiquei muito feliz em ver isso tudo pois eu busco uma mudança mim e tenho os mesmos medos que vc citou no texto. Ensaio ter essa coragem, largar e seguir. Deixar minhas “algemas douradas” termo que aprendi recentemente rs

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Bruna Ventre
Bruna Ventre
03 de fev. de 2023
Respondendo a

Que lindo seu relato e obrigada pela dedicação em buscar mais histórias minhas. realmente muita mudança ocorre quando você decide viajar e vale muito a pen, a estrada transforma a gente! Espero que encontre essa força para seguir seu sonho assim como está fazendo, uma hora chega o tempo certo das coisas e as algemas vão se afrouxar mais fácil ;)

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